Representantes de 175 países estão reunidos na Coreia do Sul para a quinta e última sessão do Comitê Intergovernamental de Negociação (INC) do Tratado Global contra a Poluição Plástica. Enquanto os impactos desse problema já afetam a saúde humana, animal e ambiental, as negociações enfrentam entraves que refletem desafios vividos em outras conferências recentes, como as COPs do Clima e da Biodiversidade, cujos resultados foram classificados como decepcionantes por ambientalistas.
Os cientistas alertam para o alcance do plástico, que agora invade até mesmo a Amazônia. Pesquisadores documentaram aves da região, como o Japiim e o Bem-te-vi, utilizando plástico para construir seus ninhos – um fenômeno registrado pela primeira vez no estado do Amapá e também observado no Pará e no Maranhão. A oceanógrafa Raqueline Monteiro, do Observatório de Lixo Antropogênico Marinho (Olamar), destaca que esses materiais são abundantes no ambiente costeiro, mas ainda não se sabe o impacto real na saúde das aves e seus filhotes.
Outro estudo recente comprovou a ingestão de microplásticos por tartarugas de água doce na Amazônia. Segundo Ana Laura Santos, bióloga da Universidade Federal do Pará, análises realizadas em espécimes de tracajás e muçuãs identificaram fragmentos provenientes de roupas, redes de pesca e garrafas plásticas. Essas descobertas reforçam a necessidade de mais pesquisas para entender como o plástico afeta os ecossistemas e a cadeia alimentar.
Além disso, uma expedição da ONG Sea Shepherd Brasil encontrou mais de 10 mil resíduos plásticos em praias do Amapá, Pará e Maranhão, mesmo em áreas protegidas. Nathalie Gil, presidente da ONG no Brasil, destaca que o problema vai além do descarte local: resíduos chegam pelo oceano, rios e até lixões próximos a corpos d’água. Para ela, o Tratado de Plásticos precisa focar na redução da produção de plástico para combater a poluição de forma eficaz.
Financiamento: o obstáculo recorrente
Em Busan, os debates iniciais no INC-5 já enfrentaram entraves sobre qual texto base guiará as negociações. Países produtores de petróleo, como Rússia e Arábia Saudita, insistem em um acordo por consenso, enquanto a maioria apoia métodos mais ágeis. Para Inger Andersen, diretora do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o financiamento segue como um grande dilema – um problema recorrente também nas COPs deste ano.
A urgência da questão ficou evidente nas cartas enviadas ao PNUMA por crianças no Quênia, preocupadas com a escassez de alimentos devido à poluição plástica. Uma delas revelou que os peixes consumidos por sua comunidade estão comendo plástico, o que reduziu a pesca, deixou os pais sem renda e ameaçou sua educação
“Nenhuma pessoa quer plástico em suas praias ou no sangue de seus bebês. O mundo exige o fim da poluição plástica”, afirmou Andersen.
Com apenas seis dias para negociações, o desafio global da poluição plástica exige decisões rápidas e ambiciosas. Sem soluções práticas, os impactos continuarão se agravando, afetando não apenas a natureza, mas também milhões de vidas humanas.
Com informações de Alice Martins Morais, correspondente em Busan
Deixe um comentário